Rosa Righetto

Amor Paixão e Sentimentos

Textos


 
 
 A MÃO QUE ASSOMBRA
 

Enquanto o sol ia caindo lentamente no final da tarde, as nuvens pairavam no céu opressivamente baixas. Uma brisa melancólica balançava levemente as folhas da jabuticabeira ao lado da janela de um dos quartos daquela casa, num pequeno sitio com uma boa localização, perto da cidade.
 
Ali residia um casal, Jorge e Marília, estavam ansiosos com o nascimento do primeiro filho, nascera Sandrinha. O quarto ao lado do pé de jabuticaba fora preparado para menina, os dias seguiam normais. 
 
As pessoas que por ali passavam olhavam com receio a casa muito antiga, com um ar sombrio. Vez ou outra um comentário de que aquele lugar era mal assombrado. Jorge dava importâncias aos murmúrios, porém sentia um arrepio cada vez que passava embaixo da jabuticabeira.
 
A vida seguiu normal para Sandrinha, até ela completar dez anos de idade. A partir de então não conseguia mais dormir sem que antes seus pais olhassem debaixo da cama, a menina tinha sempre a impressão e até mesmo a visão de um monstro saindo debaixo de sua cama, portanto passou a dormir com a luz do quarto acesa, era totalmente meticulosa antes de deitar.

Ela via e ouvia barulho de todos os jeitos, principalmente saindo debaixo da cama, via a mão que saia rasgando com as unhas o chão. Descrevê-la com qualquer palavra comum seria impossível, pois o que quer que seja que a menina via e ouvia era coisa realmente anormal ou****sobrenatural.

Para o mais íntimo pensamento encontrado dentro de nós mesmos, através de nosso subconsciente, eram medonhos os cuidados e precauções de Sandrinha quando a noite caia.
  
Marília sugeriu ao marido Jorge que trocassem o quarto da menina, a casa era grande tinha quartos de sobra, escolheu um bem próximo ao quarto dos pais, pintou reformou moveis novos, transformou num quarto de princesa. Há primeira semana tudo transcorrera normal, os pais respiravam aliviados, podemos dormir em paz.
 
Para surpresa dos pais  numa noite de muita chuva a menina acordou assustada, gritando: ____ Mamãe, corre mamãe o monstro quer me pegar. A mãe adentrou correndo ao quarto da filha vendo-a acuada na cama encolhidinha tremendo de pavor agarrada com seu ursinho, assustou-se também, mas não deixou transparecer e foi logo dizendo: ___ Ora Sandrinha não há monstro algum. Foi só um sonho ruim. Volte para a cama vou cantar para fazê-la dormir, e assim a menina adormeceu.
 
Certa vez, Jorge e Marília receberam a visita do primo Malaquias e família,  Jorge se mostrou preocupado, como o primo ia reagir diante daquela insustentável situação, Teria que contar o que acontecia com a filha Sandrinha. ***Jorge então estava decidido, iria se abrir com o primo.
 
Depois de relatar os fatos ao primo Malaquias complementou dizendo que estava decidido, apesar de gostar muito dali, estava disposto a vender a propriedade, queria paz para poder viver, a família lhe era muito preciosa,  não lhe restava outra saída senão sair do sítio.
 
Para a surpresa de Jorge o primo não mostrou nenhum pouco amedrontado ou preocupado, contudo ainda disse a Jorge que teria como resolver toda aquela situação.______ Mas como? Perguntou Jorge.
 
Olha primo, disse Malaquias, não sei se você acredita, tenho uns amigos, não é nada de magia negra, são pessoas do bem, eles podem vir aqui fazer uns benzimentos e se for coisa ruim atormentando a vida de vocês, ele resolve o problema.
 
Os dias seguiram ainda conturbados até o dia combinado dos amigos de Malaquias vir fazer o trabalho, ou seja, benzer o sítio e a casa, assim como dizia o primo.
 
Chegado o dia, após cumprimentos e apresentações Jorge fora logo dizendo estava tudo providenciado conforme fora pedido. A mesa pronta  com toalhas brancas, um garrafão de vinho outro de água e algumas velas brancas sobre a mesa. Mais ou menos umas dez pessoas em volta, inclusive, Jorge, Marília e o primo Malaquias.
 
Iniciaram-se as orações,  na voz do mestre, o mais velho de sete pessoas que vieram, falando uma linguagem que Jorge não entendia a todo o momento o mestre ingeria um gole de vinho intercalando com um gole de água. 
 
De repente passou uma rajada de vento, com trovões e relâmpagos, Jorge quase se borrou de medo, seu coração disparou. Arregalou os olhos, preocupado. Virou para os lados e tentou encontrar a porta de saída, o primo o segurou para que ficasse até o fim.
 
Em seguida surgiu uma forte luz no teto. Sua intensidade ofuscou os olhos do velho senhor que comandava o trabalho. Nesse momento pediu para que todos o acompanhasse, abriu a porta da frente da casa e saiu em direção à janela do quarto de Sandrinha.
 
Ajoelhou-se próximo a jabuticabeira, pediu para que o dono da casa retirasse os tijolos da calçada. Jorge assim fez, agora cave um buraco, feito o buraco o mestre pediu para que todos se afastassem, deu uma talagada no gargalo do vinho e mais outra, a água ele jogava dentro do buraco, depois o restante do vinho também fora jogado.
 
De repente um forte redemoinho fazendo a poeira escurecer o céu, a jabuticabeira estremeceu deu como que um gemido e folhas caindo. O mestre saltou para traz com um grito apavorante, ahhhhhhhhhhhhhh... __Achei***achei, o demônio que os atormentam, e tirou uma estatuazinha de madeira em formato de diabo com chifrinho e tudo de dentro do buraco que Jorge havia feito na calçada.
 
O senhor (mestre) benzedeiro chamou Jorge e pediu uma caixa grande, e fora colocando dentro, o diabinho que fora encontrado no buraco, os gafarrafões, as velas restantes a toalha branca que envolvia a mesa, tomando o cuidado de não ficar nada para traz.
 
Pediu então a Jorge que levasse aquela caixa em água corrente, num rio de preferência para que a água levasse pra longe, e tinha que ser sozinho.
 
Jorge apavorado, tremendo muito, arriou seu cavalo por nome pirilampo, passou a mão na caixa montou e saiu a galope. No fundo do sítio passava  um rio com águas claras  uma corredeira forte  com certeza levaria pra bem longe a caixa e seu conteúdo. Jorge jogou a caixa com uma força tamanha, para ter certeza que a correnteza levaria. Feito o serviço montou novamente e saiu galopando sem olhar para traz.
 
Jorge foi então orientado que o sitio fosse bento uma vez ao ano, por hora tudo estava resolvido, todos iriam ter paz. Em seguida Marília preparou a mesa para uma refeição farta, todos alimentados despediram e se foram.
 
O primo Malaquias ficou mais uma semana e constatou que tudo estava normal. Os gritos haviam desaparecido. E, no seu lugar, apenas o vento e os objetos podiam interagir com Sandrinha agora, tudo na maior calmaria.
 
Os dias seguiam normais a partir de então. Enquanto o relógio tilintava pela casa, o vento permanecia constante e calmo do lado de fora. O ar sombrio que imperava no pé de jabuticaba desaparecera, no mesmo instante balançava as folhas da bela árvore frutífera que caíam com mais freqüência naquela época de outono.

A paz fazia-se reinar naquela família. Sandrinha ainda não recuperada do trauma, quando sentia necessidade de ir ao banheiro ou tomar água a noite, colocava a ponta do pé no chão e esperava vários minutos até acreditar que nada ou ninguém o agarraria.
 
As sombras criadas pelos raios do luar que penetravam pelas janelas não mais a assustava. Pelo contrário! Transmitiam-lhe a paz que faltava em seu coração já tão massacrado pelo pavor que vivera.
 
FIM
 
ROSA RIGHETTO
25/05/10

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Rosa Righetto
Enviado por Rosa Righetto em 25/05/2010
Alterado em 30/05/2010
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