Rosa Righetto

Amor Paixão e Sentimentos

Textos


QUANDO SE ROMPE O SILÊNCIO
 
 
Laura, mulher bonita, desde sua viuvez mora só em sua casa de campo, o marido Julio morreu de infarto fulminante, desde então ela decidiu que ficaria ali naquela casa, não pretendia se mudar para a cidade, mesmo sabendo dos comentários de que sua casa era mal assombrada. Sabia ela que de mal assombrada nada existia, mas de tanto ouvir falar, às vezes o medo a dominava.
 
Recebia vez em sempre visitas de duas primas muito chegadas a ela, Mariana e Iara. De poucas amizades, muito religiosa, todo o domingo acordava de manhã se arrumava, para ir até a cidadezinha a uns dois quilômetros aproximadamente de sua fazenda, assistir a missa, habito rotineiro.
 
Sempre que ia à cidade ouvia os murmurinhos, as tais histórias, as pessoas que a conhecia perguntava-lhe se ela não tinha medo de continuar morando na casa, com tantas histórias relatadas.
 
Não, não era medo. Mas tinha sempre a impressão de que era vigiada. Sentia uma inquietação. Sim, estava inquieta, tinha de admitir. Como se pressentisse a aproximação de um perigo. Mas sabia que isso era uma bobagem. O que poderia haver, afinal? Almas de outro mundo não existem. Mas ela própria ficara curiosa com as histórias de fantasmas
 
Em uma de suas noites solitárias o silencio se rompe, Laura ouve a porta ranger, barulhos de corrente se arrastando, gemidos, o pavor toma conta, apavorada não sabe o que fazer se abre a porta do quarto e sai correndo ou se fica quietinha, decidiu por ficar quieta, acabou dormindo.
 
No outro dia levantou-se como de costume, fez seu gostoso cafezinho, e foi dar uma olhada no interior da casa e também nos arredores, não viu nada de estranho então imaginou ter sido realmente um pesadelo. Teria sido mesmo um pesadelo? E assim a vida transcorria sem pressa, o tempo fluindo lentamente.
 
Teria que não deixar transparecer nenhuma preocupação quanto à noite anterior, pois, as primas chegariam para passar uns dias com ela.
 
Em uma de sua ida à cidade na companhia das primas, já no esconder da noite, para assistir a celebração da missa, onde tudo transcorria normal.  Resolveram, Laura e as primas, alongar um pouco mais o passeio, adentraram a uma lancheteria, saborearam uns petiscos, a seguir pegaram o caminho de volta.
 
Já se fazia tarde, próximo a meia noite. Uma noite fria, neblina, o caminho se tornava mais sombrio. Fecharam as janelas. Vidro embaçado mal se enxergava o caminho à frente, e o carro seguia devagar, pelo chão de barro escorregadio. Risadas nervosas cortavam o silêncio.
 
De repente uma das primas da um grito, vocês viram? Vimos o que? Pergunta Laura. A prima responde:-  uma mulher vestida de branco, como uma noiva, passou na frente do carro. Ouçam os gritos, Ouviram? Não, não ouvimos nada, seu coração acelera, no rosto o pavor. Laura diz à prima, é sua imaginação. Você ficou encabulada com as histórias que ouviu na cidade, esqueça isso, estamos chegando.
 
Em casa, mais ou menos refeita do susto, a prima se aquieta, Laura arruma os quartos de hospedes às acomoda e sobe para seu aposento.
 
Laura nada comentara, mas estivera inquieta todo o dia por causa dos acontecimentos estranhos, não queria pensar, como um lugar tão bonito, tudo tão agradável poderia ser palco de acontecimentos fantasmagóricos. Não, não havia razão para se sentir inquieta. Precisava se livrar daquele aperto no peito.
 
 
Assim foram passando os dias. Uma noite depois do jantar, Laura e as primas aquecidas por vários copos de vinho tinto, foram todas para fora. Muito bem agasalhadas, pois o frio era cada vez mais cortante. Tudo transcorria normal, hora de repousar, fecharam todas as portas e foram dormir.
 
Laura entra no quarto, tira a roupa, deita-se, meio que adormecida sente de repente um arrepio, calafrio, mãos tocando primeiro em seu rosto, depois pescoço, pelos ombros, nos seios, se excita, quer gritar, correr, mas não, parece estar gostando apesar do medo. A respiração ofegante se aproxima cada vez mais, buscando-a. Continua entorpecida. É uma sensação estranha, feito apenas de tato e cheiro. Arrepia-se, estremece. Pensa abrir os olhos e ver de perto a presença assombrosa.
 
Mas não, se mantém imóvel e silenciosa, para que seja possuída, se sentia totalmente envolvida, uma sensação boa, gostosa. Seria a tal assombração? Fantasma? Era um aroma muito bom, fino, translúcido, vindo de outro mundo, emergindo das sombras, para tomá-la. Estremecida de pavor e desejo, Laura se entrega a essa delicia, sem saber o que lhe proporcionava tanto êxtase.
 
Não, não estava sonhando. Laura sabia. Sabia também que já não era preciso fugir, que tudo era real. E, portanto o medo cessou. Já não sentia pavor ou aflição. O aroma doce do deleite penetrou o ar com sua essência perene.

Laura abre os olhos.

Em meio ao marasmo, a penumbra rósea que penetra pela porta semi-aberta, faz com que ela vê o brilho dos olhos, matizados, iluminados, como a luz que a envolve. São os Olhos da prima. Sim, da prima, e sabe que não foi um sonho. Na verdade a casa nunca fora mal assombrada, a situação já existia bem antes do falecimento de Julio. 
 
 
Laura está presa na teia de um passado que veio a tona. De sobrenatural nada tem a ver, e sim daquele amor de mulher, doce e proibido. Pressentira-o há tempos, lutara contra ele, fingira não sentir.
Agora já não pode mais fugir.

Laura está frente a frente com sua assombração.
 
 
ROSA RIGHETTO
07/12/09

CONT...

 
 
Rosa Righetto
Enviado por Rosa Righetto em 07/12/2009
Alterado em 12/12/2009
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